No campo da psicologia e economia comportamental, poucos nomes são tão influentes quanto o de Daniel Kahneman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2002 e autor dos livros "Rápido e Devagar" e “Ruído: Uma falha no julgamento humano”. Seu trabalho inovador redefiniu a forma como entendemos o processo de tomada de decisão, desafiando a crença na racionalidade ilimitada dos seres humanos. Durante o evento “O Legado de Daniel Kahneman: Neurociência, vieses cognitivos e o processo decisório”, o legado de Kahneman foi explorado em profundidade pelas professoras da Saint Paul Alexandra Olivares, Docente em Neurociência Aplicada ao Desenvolvimento de Líderes e do Programa de Liderança de Talentos e Potencial no Supremo Tribunal Federal (STF), e Bruna Losada, Ph.D, Pós doutora em Finanças pela Columbia University e autora do livro “Finanças para Startups”. Elas, junto ao apresentador e moderador do evento, Adriano Mussa, Ph.D, Sócio, Reitor e Diretor Acadêmico e de Inteligência Artificial da Saint Paul, destacaram os conceitos fundamentais que Kahneman introduziu e suas implicações para a tomada de decisões em diversos contextos.
Uma das contribuições mais notáveis de Kahneman é a distinção entre dois sistemas de pensamento: o Sistema 1 e o Sistema 2. O Sistema 1 opera de forma rápida, automática e intuitiva, permitindo que tomemos decisões em frações de segundo. Em contraste, o Sistema 2 é lento, deliberado e exige um esforço consciente, sendo responsável por análises mais profundas e racionais. O evento destacou como o Sistema 1, apesar de sua eficiência, pode nos levar a decisões enviesadas, devido à sua dependência de heurísticas – os atalhos mentais que usamos para simplificar a complexidade do mundo.
Heurísticas como ancoragem, disponibilidade e confirmação foram alguns dos exemplos discutidos, mostrando como esses atalhos podem distorcer nosso julgamento. Por exemplo, a heurística da ancoragem faz com que nossas estimativas sejam influenciadas por informações iniciais, mesmo que irrelevantes, enquanto a disponibilidade nos leva a superestimar a probabilidade de eventos com base na facilidade com que eles vêm à mente. Esses vieses podem afetar tanto decisões cotidianas quanto aquelas mais críticas, como as tomadas em ambientes corporativos.
Outro tema central foi a Teoria do Prospecto de Kahneman, que explora como as pessoas tomam decisões em situações de risco e incerteza. Essa teoria revolucionou o campo das finanças comportamentais ao mostrar que os seres humanos tendem a ser avessos à perda, preferindo evitar perdas a ganhar de forma equivalente. Além disso, a forma como uma decisão é enquadrada – seja em termos de ganhos ou perdas – pode influenciar drasticamente a escolha final, desafiando a premissa da racionalidade econômica tradicional.
O evento também abordou a relevância dos conceitos de Kahneman para a composição e o funcionamento dos conselhos corporativos. A diversidade de perspectivas e a multidisciplinaridade foram destacadas como essenciais para mitigar vieses e melhorar a qualidade das decisões. A liderança, nesse contexto, tem o papel definitivo de criar um ambiente de segurança psicológica, onde os membros do conselho se sintam à vontade para expressar pensamentos críticos e questionar as intuições automáticas.
O legado de Daniel Kahneman continua a impactar profundamente a forma como entendemos e praticamos a tomada de decisão, tanto em nível individual quanto organizacional. Ao aplicar seus insights sobre os sistemas de pensamento, heurísticas e vieses cognitivos, podemos nos tornar mais conscientes das armadilhas mentais que enfrentamos e adotar estratégias para superá-las, promovendo decisões mais racionais e eficazes.
O evento faz parte dos encontros exclusivos da comunidade do SEER: Programa Avançado para CEOs, Conselheiros e Acionistas. Para saber mais sobre o curso, clique aqui.